Tuesday, September 27, 2011

GRAÇA E CARISMA NA RE(A)PRESENTAÇÃO DO UNIVERSO INFANTIL EM HERÓI BALTUS

POR LAURA SALERNO

“As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis:
Elas desejam ser olhadas de azul -
Que nem uma criança que você olha de ave.”
Trecho de “Uma Didática da Invenção”, de Manoel de Barros

 
        Azul é exatamente a cor em que o palco fica quando Baltus tem suas visões fantasiosas, quando sua imaginação toma conta da realidade – influenciado pelo filme de terror que assiste escondido de sua mãe, essas visões sempre o amedrontam. Azul como a cor do olhar de criança, que é curioso e sincero sem maiores preocupações com o que é razoável.
        É com esse olhar que o Grips Theater Berlin monta a peça Herói Baltus (Held Baltus), o primeiro texto infantil do autor alemão Lutz Hübner. O menino Baltus vive com sua mãe que, por conta do trabalho, pouco fica em casa. Ele recebe visitas de sua vizinha Claire e juntos eles discutem grandes aventuras como: assistir a um filme de terror escondidos dos pais, as brigas que Claire tem na escola, e, principalmente, a possibilidade do novo namorado da mãe de Baltus ser um vampiro.
        A direção de Joerg Schwahlen traz ao palco uma grande brincadeira, cheia de faz-de-conta. Os atores pintam aquarela deitados no chão, comem batata chips e sorvete, usam balde com água, entre outras travessuras que nos remete diretamente à nossa própria infância. Como parte do cenário, um sofá que cabe de um tudo embaixo e que quando os atores sentam, ficam com as pernas no ar, sem alcançar o chão. Há também a presença de um pianista no palco, que além de fazer a trilha ao vivo, muitas vezes interage com a cena, se tornando também um personagem.
       É tudo encenado com muita graça e carisma e, apesar dos diálogos em alemão (há uma tradução parcial em português, narrativas ao longo do espetáculo que antecipam o que acontecerá nas cenas), o humor é mantido e compreendido pelos leigos da língua, tanto que uma gostosa gargalhada de um bebê, que estava no público, encheu todo o teatro durante uma das várias cenas engraçadas que acontecem na peça.
         As temáticas abordadas pelo autor mostram-se atuais e universais. As situações do menino que sente a falta de sua mãe em casa e sente ciúmes do namorado dela, da menina que briga na escola, são abordadas pelos alemães e muito bem reconhecidas pelo público brasileiro. Lutz Hübner escolheu por uma caracterização maniqueísta de seus personagens onde há herói e vilão. A encenação realista da história traz bastante criatividade e interessa crianças e adultos – reapresentando aos últimos o tal olhar azul.

Crítica escrita para o V Festival Internacional Paidéia de Teatro para a infância e juventude: uma janela para a utopia em 25/09/2011.
www.paideiabrasil.com.br