Saturday, November 12, 2011

Meu trem pras estrelas

São 3h da manhã
Vejo ruas da janela
O sol apagou sua luz
Mas o partir da lua espera

Eu, enquanto observo
Sem pensar, pensando em ir
Buscar um pouco da lua
Querer com ela sair

E num querer-não-quer
Também queria ficar
Esperar a clareza do sol
Um amor com ele chegar

Mas já passam das 4h então
E nada, de fato, ficou
Lua e sol, vêm e vão, no vão, ser tão...
Rindo, indo, lamento.


Depois dos navios negreiros
Outras correntezas...





Tuesday, September 27, 2011

GRAÇA E CARISMA NA RE(A)PRESENTAÇÃO DO UNIVERSO INFANTIL EM HERÓI BALTUS

POR LAURA SALERNO

“As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis:
Elas desejam ser olhadas de azul -
Que nem uma criança que você olha de ave.”
Trecho de “Uma Didática da Invenção”, de Manoel de Barros

 
        Azul é exatamente a cor em que o palco fica quando Baltus tem suas visões fantasiosas, quando sua imaginação toma conta da realidade – influenciado pelo filme de terror que assiste escondido de sua mãe, essas visões sempre o amedrontam. Azul como a cor do olhar de criança, que é curioso e sincero sem maiores preocupações com o que é razoável.
        É com esse olhar que o Grips Theater Berlin monta a peça Herói Baltus (Held Baltus), o primeiro texto infantil do autor alemão Lutz Hübner. O menino Baltus vive com sua mãe que, por conta do trabalho, pouco fica em casa. Ele recebe visitas de sua vizinha Claire e juntos eles discutem grandes aventuras como: assistir a um filme de terror escondidos dos pais, as brigas que Claire tem na escola, e, principalmente, a possibilidade do novo namorado da mãe de Baltus ser um vampiro.
        A direção de Joerg Schwahlen traz ao palco uma grande brincadeira, cheia de faz-de-conta. Os atores pintam aquarela deitados no chão, comem batata chips e sorvete, usam balde com água, entre outras travessuras que nos remete diretamente à nossa própria infância. Como parte do cenário, um sofá que cabe de um tudo embaixo e que quando os atores sentam, ficam com as pernas no ar, sem alcançar o chão. Há também a presença de um pianista no palco, que além de fazer a trilha ao vivo, muitas vezes interage com a cena, se tornando também um personagem.
       É tudo encenado com muita graça e carisma e, apesar dos diálogos em alemão (há uma tradução parcial em português, narrativas ao longo do espetáculo que antecipam o que acontecerá nas cenas), o humor é mantido e compreendido pelos leigos da língua, tanto que uma gostosa gargalhada de um bebê, que estava no público, encheu todo o teatro durante uma das várias cenas engraçadas que acontecem na peça.
         As temáticas abordadas pelo autor mostram-se atuais e universais. As situações do menino que sente a falta de sua mãe em casa e sente ciúmes do namorado dela, da menina que briga na escola, são abordadas pelos alemães e muito bem reconhecidas pelo público brasileiro. Lutz Hübner escolheu por uma caracterização maniqueísta de seus personagens onde há herói e vilão. A encenação realista da história traz bastante criatividade e interessa crianças e adultos – reapresentando aos últimos o tal olhar azul.

Crítica escrita para o V Festival Internacional Paidéia de Teatro para a infância e juventude: uma janela para a utopia em 25/09/2011.
www.paideiabrasil.com.br

Friday, April 22, 2011

Experientia I

O toco do cigarro recém tragado
Descansando em um pires de xícara
Cinzas da solidão indigente
Inerentes a dose de álcool
Do uísque no copo de requeijão

O gosto forte da falta de gelo na bebida
Misturado ao aroma de tabaco por todo o corpo
Misturado à dúvida de uma existência em filosofia
A cabeça leve e pesada tentando fazer poesia
A falta de paz

Que cria pregas
Que cria regras
Que complica
O que não há por que
O que não tem que ser

Eis a questão
Rabiscada no papel de pão
Desenhada por caneta BIC
Em caixas de papelão que cheiram mofo
Que guardam lembranças

A memória em matéria
A discórdia em evidências
Heranças genéticas de uma humanidade medíocre
Que sempre quis ser mais
Mas é cada vez menos

Tanta merda e hipocrisia
Em um gosto amargo de falsa boemia
Pensamentos de solitude
A miúde de uma fragilidade maior
Que desabita o ser e se estabelece

Em um toco de cigarro recém tragado
E na dose de uísque no copo de requijão
Nas pregas, nas regras
Que são falsamente negadas
Nas que vivem saindo das caixas de papelão


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Inspiração desencadeada pela peça/ensaio que assisti hoje.
Fragmentos de "O Jardim"
Cia. Hiato

Sunday, February 13, 2011

Bom senso temperado a pitadas de loucura carioca trazem boa música aos paulistanos

POR LAURA SALERNO

"Reconheço o valor dos versos meus
E a sujera que habita a mente pura
A pureza que mora na mistura
E a discórdia que mora no consenso"
DEUS CONSERVE PRA SEMPRE MEU BOM SENSO TEMPERADO A PITADAS DE LOUCURA
EDU KRIEGER

---O SESC Ipiranga em São Paulo está com um belo projeto para as sextas e sábados do mês de fevereiro. Chamado “Ponte Aérea”, de 4 a 19 de fevereiro eles trazem “Novos Cariocas e Novos Paulistanos”, alguns representantes do novo cenário da boa MPB tanto em Sampa quanto no Rio. Ontem, sábado dia 12, foi a vez do carioca Edu Krieger se apresentar no aconchegante teatro do SESC localizado no bairro do Ipiranga, próximo ao parque de mesmo nome.
---Misturando músicas do seu mais recente cd “Correnteza” (2009) e do trabalho anterior “Edu Krieger” (2007), ambos pela gravadora Biscoito Fino, o cantor aproveitou a oportunidade do show em São Paulo para mostrar seu trabalho, optando por um repertório 100% autoral. No público havia admiradores do seu trabalho (alguém nas cadeiras cantou todas as músicas, com todas as letras de cor), parceiros musicais, bem como alguns curiosos que se interessaram em conhecer melhor o trabalho do rapaz que é tão pouco divulgado na capital paulistana.
---Conhecido principalmente pelas músicas “Maria do Socorro”, “Ciranda do Mundo” e “Novo Amor”, sucessos nas vozes de Maria Rita e Roberta Sá, além de um ótimo compositor, ele se revelou um grande instrumentista. Tocando um violão de 8 cordas, usava e abusava dos baixos, em solos e acordes de samba e algumas variações ora bossa, ora Chico, incluindo uma forte influência dos ritmos nordestinos, mostrando todo o seu talento e experiência – Edu foi baixista de nomes como Sivuca e Geraldo Azevedo.
---Acompanhado pelo acordeom de Marcelo Caldi (que faz parte do grupo LiberTango, que regravam Astor Piazzolla brilhantemente) e pela flauta e percussão de PC Castilho, o trio entrava em perfeita sintonia costurando musicalmente as letras paradoxais, inteligentes, engraçadas e criativas de Edu, representadas em sua voz firme e muito agradável. Nos arranjos todos tiveram momentos de improviso, bem como solos, presenteando o público com trechos instrumentais arrebatadores. Apesar do show pequeno e intimista, Edu Krieger estava por completo: compositor, cantor, instrumentista, parceiro, ídolo e um singelo contador de histórias revelando curiosidades de suas músicas, mostrando também seu lado fã, pai, amigo.
---Os únicos desencontros da noite foram: o fato dos CDs do artista estarem esgotados nas lojas, deixando parte do público só na vontade de adquirir o seu pedaço de Edu Krieger, e algumas cadeiras do teatro vazias que, pelo estilo e qualidade de sua música são justificáveis por um motivo: a pouca divulgação do seu trabalho em São Paulo, bem como a pouca divulgação da própria apresentação. Algum crítico alguma vez disse que Marcelo Camelo, enquanto compositor, seria o “Chico Buarque” dessa geração (com suas ressalvas, claro). Na minha modesta opinião, o Chico das décadas 00, 10... se chama Edu.

Friday, January 28, 2011

Que venham os novos (e bons)!

Conversa de botequim


Vá pedir ao seu gerente
que pendure essa despesa
no cabide ali em frente

NOEL ROSA
encostar a barriga no balcão
daquele boteco antigo
: rabo-de-galo torresmo pernil
prosa fiada sem perigo
-
o pernil tá bom demais
tá coisa fina ô gente boa
embrulha aí o que sobrou
que eu vou levar pra patroa
-
filar um cigarro bater
a ponta na unha encardida
vai mais uma? agradecer
obrigado eu tô de saída
-
não saber se o cara ao lado
é bandido irmão algoz
: a humanidade que sobrou
em cada um de nós.
Carlos Felipe Moisés
-
-
Retirado da Revista E - janeiro 2011 - n.7 - ano 17 _ pg.43
Distribuição gratuita do SESCSP
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Acho que nunca postei textos de outras pessoas, a não ser em epígrafes para coisas minhas.
Li esse poema em uma revista. É de um autor contemporâneo, que eu não conhecia, e gostei demais. Pela referência de Noel, a tal música é uma das minhas favoritas do poeta da Vila, e pelo jeito que foi escrito, o resultado da inspiração. Contemporâneo e bom.
Se gostou, procure mais, essa fonte tem mais águas, de outras cores e sabores.

Sunday, January 16, 2011

Essa moça é diferente...

Transborda charme em (pseudo)circunspecção
Exala incógnitas à minha percepção.


Em pistas de Mário Quintana, Djavan e Damien Rice.

Ideias e ideais

Um texto a ser escrito
Cristalizado
Petrificado

É aquele dito
Doutrinado
Entalhado

Circunscrito
Não modificado
Não finalizado.