Friday, April 22, 2011

Experientia I

O toco do cigarro recém tragado
Descansando em um pires de xícara
Cinzas da solidão indigente
Inerentes a dose de álcool
Do uísque no copo de requeijão

O gosto forte da falta de gelo na bebida
Misturado ao aroma de tabaco por todo o corpo
Misturado à dúvida de uma existência em filosofia
A cabeça leve e pesada tentando fazer poesia
A falta de paz

Que cria pregas
Que cria regras
Que complica
O que não há por que
O que não tem que ser

Eis a questão
Rabiscada no papel de pão
Desenhada por caneta BIC
Em caixas de papelão que cheiram mofo
Que guardam lembranças

A memória em matéria
A discórdia em evidências
Heranças genéticas de uma humanidade medíocre
Que sempre quis ser mais
Mas é cada vez menos

Tanta merda e hipocrisia
Em um gosto amargo de falsa boemia
Pensamentos de solitude
A miúde de uma fragilidade maior
Que desabita o ser e se estabelece

Em um toco de cigarro recém tragado
E na dose de uísque no copo de requijão
Nas pregas, nas regras
Que são falsamente negadas
Nas que vivem saindo das caixas de papelão


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Inspiração desencadeada pela peça/ensaio que assisti hoje.
Fragmentos de "O Jardim"
Cia. Hiato

3 comments:

João Gilberto Saraiva said...

Acho que as caixas de papelão mofadas têm mesmo o cheiro das memórias guardadas.

Gostei especialmente da parte:

"A memória em matéria
A discórdia em evidências
Heranças genéticas de uma humanidade medíocre
Que sempre quis ser mais
Mas é cada vez menos"

Sua experientia teve um ótimo resultado, até mais doutora.

sindrominha said...

Oi Adorei o seu blog, convido você a visitar o meu blog de textos. Obrigado!!

Carol Freitas said...

A certeza que fica é a de que você deveria passar mais por aqui. Um poema inteiro: do jeito que eu gosto.

;)