Friday, March 5, 2010

Antes Santos e Silvas… II

Acho que vou morrer de câncer. Tenho quase certeza. Tantos parentes ele matou, a genética confere. E além do mais há essa mania maldita que mais está para vício (ou esse vício horroroso que se promoveu a mania), enfim, eu até queria abolir isso de mim, mas não tento, não há nenhum esforço para parar, nenhuma tentativa de tentar parar. Também não tenho uma alimentação rica em vitaminas e sais e minerais. Por isso, já tenho certeza: vou morrer por causa de um câncer que tomará conta do meu corpo. Não penso que não vou sofrer. Sofrerei, chorarei e a depressão há de estourar (e quem sabe isso não trará alguma nobreza para minha história medíocre, minha última esperança). Mas, não vou ficar surpresa, nem vou culpar ninguém.

Contando que até lá papai e mamãe (que já têm carência de cabelo e de memória, ambos, ambos) estarão me esperando seja lá onde for, se é que há um lugar para onde (e por onde) se esperar… Contando que casamento ou filhos não haverão (ou melhor, não haverei)… Contando que esse salário que me pagam, que custeia, nada menos (nem mais), que meu apartamento na Barra e a BMW na garagem (não me perguntem o propósito disso, que ja o faço eu mesma, tentando me convencer que estão aí para consolar, de alguma maneira, têm que consolar), não trará heranças ao primos de segundo grau…

É isso. Se eu contar com o sucesso do meu plano de vida, morrerei sem grandes lastimações. Aos primos (que estarão putos pela falta de herança) que cuidarão do meu enterro, só peço uma coisa:não esqueçam do batom e do tailler gelo. Em morte quero poder me preocupar com algo que nunca fiz em vida, e inspirar algo que nunca consegui ter. Quero morrer linda e com ares de paz.

Jeito de quem finalmente realiza o que sempre quis.

8 comments:

teoriasrabugentas said...
This comment has been removed by the author.
Nathi said...

won!

Brilhantemente aceso!

Não consigo ser mais explicita do que com pleonasmos!

Gostei da parte que não deixa a gente sacar se ela está sendo sincera ou se é só um ar de quem quer se enganar...isso é demais, nós, humanos, passamos a vida querendo imaginar que foi linda e quando vemos que não foi, fingimos que não ligamos!
Ôh lastimas!

teoriasrabugentas said...

Caramba... Entrei pros blos amigos!

Texto bom! Mórbido, mas bom.

Não sei até onde foi a verdade do texto, conforme o coment acima disse... A minha verdade é o medo da leucemia. É um medo recorrente em minha mãe, por possível genética, mas não me preocupo tanto. Meus cabelos caem naturalmente ou por preocupação... Porque ainda não tenho nem o emprego pro BMW nem pro tratamento. Antes da doença chegar, prefiro me preocupar com isso.

Mas a realização da possibilidade de morte deixa a gente mais corajoso, eu acho. já que isso vai acontecer, vamos viver, né... A gente pensa em certos sacrifícios e vê que o ideal é ir levando a vida como se gosta. A vida´e curta demais pra gente sofrer.

Obrigado pelo link aí!
Beijos!

GABRIEL, gustavo said...

A vida é tão grande para se sofrer, que a gente nem imagina.

E, as vezes, pede a Deus para ela acabar.

Brilhante, Lis.

josé luiz said...

"Há esperança para o teu futuro" (Jeremias 31:17)

juliana romano said...

oi lis!! eu vi agora tua mensagem no meu blog... depois de 1 mes!! de fato ele anda paradiiiiinho! ando meio sem inspiração e tempo! mas prometo não deixa-lo morrer!bom, ainda que eu o deixe morrer, prometo que vai ser como vc gostaria, com batom e muita paz! hahahahahahaha!
adorei o teu blog também! vamos nos visitando sempre, então!
beijo enorme
juliana romano (saltimbancos)

julianaromano said...

oi lis!! eu vi agora tua mensagem no meu blog... depois de 1 mes!! de fato ele anda paradiiiiinho! ando meio sem inspiração e tempo! mas prometo não deixa-lo morrer!bom, ainda que eu o deixe morrer, prometo que vai ser como vc gostaria, com batom e muita paz! hahahahahahaha!
adorei o teu blog também! vamos nos visitando sempre, então!
beijo enorme
juliana romano (saltimbancos)

Unknown said...

Somos duas. Vou morrer de cancer também, quase certeza. E também já descobri a causa dele: é o peso no coração. Sabe? Quando nos preocupamos demais com algo, ou sentimos as pancadas da vida... Daí esse mal vai se espalhando pelo restante do corpo, uma briga com a amiga atinge o ombro, um susto a boca do estômago, a injustiça esmaga o peito, a rotina massacra as costas e por aí vai. Então as células se revoltam. Decidem acabar com tudo. Quase uma doença auto imune. Tentando aliviar o coração acabamos mesmo é nos virando para nós. E quem disse que coração partido não mata?